Renegociação

Botafogo: o melhor lance de 2023 foi fora dos gramados

Torcedores do Botafogo viveram fortes emoções em 2023. No campo, os bons resultados não foram suficientes. Mas, no âmbito jurídico, há uma perspectiva positiva: a Justiça do Rio de Janeiro aprovou o pedido provisório de recuperação extrajudicial da associação e suspendeu, por 90 dias, o pagamento de dívidas que passam de R$ 404 milhões.

Posso tranquilizar torcedores e credores de que a escolha pela recuperação extrajudicial foi acertada. Apesar de menos conhecida, essa modalidade de renegociação vem crescendo. Registrou, até dezembro do ano passado, segundo o Observatório Brasileiro de Recuperação Extrajudicial (Obre), alta de 64,7% nos pedidos, revelando-se um recurso viável para reestruturação empresarial. Cerca de 118 empresas já aderiram ao modelo, mais ágil e econômico.

Clubes como Cruzeiro, Santa Cruz, Coritiba, entre outros, buscaram, no passado, o caminho da recuperação judicial – que considero mais árduo, prolongando o comprometimento com a Justiça, aumentando os custos, inclusive reputacionais.

A recuperação extrajudicial se baseia na negociação direta entre devedor e credores, consolidada em um plano, para o qual são vertidas cláusulas que regulam interesses diversos, mas com um ponto em comum: a capacidade de geração de caixa e de pagamento de dívidas. Desde a reforma da Lei da Insolvência (11.101/2005), em 2020, essa abordagem ficou mais acessível e eficiente, permitindo a negociação com bancos, fornecedores ou funcionários, além de trazer benefícios fiscais.

No caso do Botafogo, o pedido da associação, que não se confunde com Sociedade Anônima do Futebol (SAF), foi levado ao Judiciário nos últimos dias de 2023 e tem uma peculiaridade: a convivência com o Regime Centralizado de Execuções (RCE), para a negociação de dívidas trabalhistas.

Mas atenção, torcedor: ainda é um pedido provisório. O clube tem 90 dias para convencer mais de 50% dos credores a aderirem ao plano e, assim, buscar a homologação. Caso contrário, restará desistir do pedido, buscar uma recuperação judicial ou partir para a falência – algo remoto, embora seja uma possibilidade jurídica.

A recuperação extrajudicial pode beneficiar todos. É ainda uma maneira de oferecer resposta rápida a um problema histórico de endividamento do futebol brasileiro e proporcionar a transformação desse mercado, com resultados positivos, também, dentro de campo.

Reportagem originalmente publicada em Estadão

Publicado em
28/10/2024